Eu tinha corrido tanto. Estava tão cansado, tão esgotado de tudo. E ninguém queria saber, ninguém me perguntava, se me magoava, se sofria, se existia dor. Ninguém queria. Mas tinha corrido tanto, e ...
Sou de um tempo em que não existia SMS, Telegram, Messenger, Signal, Whatsapp ou sequer e-mail para as massas. Existia papel, um envelope e um selo, que podia lamber-se ou fixar-se com cola. Era um ...
Passei a porta e ela fechou-se atrás de mim. Estavas à espera e fizeste-me sinal, apressada, enquanto me ordenavas “não digas nada”. Depois empurraste-me contra a parede e pressionaste o ...
Ninguém te pergunta como estás. Não para querer mesmo saber. Podem perguntar-to por educação, aquela cortesia num cumprimento, e provavelmente dirás que estás bem, que está tudo em cima – não se ...
A sabedoria popular manda guardar os amigos perto, e os inimigos ainda mais perto. É como ter os amigos no armário enquanto que os inimigos se transportam no bolso das calças, perto, pertinho, ali ao ...
Há vinte anos – a conta é redonda, sem a preocupação de atirar ao alvo de modo certeiro – a minha preocupação com o açúcar era diferente da que tenho hoje. E a consciência muito menor. ...
Naquele tempo fizeram-lhe mal. Há gente a fazer mal a outra gente todos os dias, todos os minutos. Umas vezes sabendo, outras não. Por vezes querendo, por vezes sem conseguir evitar. Mas ali sabia-se, ...
O rosto cobria-se de um manto pesado quando se dizia que ia embora. As palavras que chegavam no vento eram de mudança. Que te vais, parece. Vais para lá, lá longe, parece que te querem, que te vão ...
Não sou quem tu viste, sou mais, e para quase toda a gente, tão menos. Estou feita de cabedal, curtida, resistente. Deixo que pensem em mim como alguém que não quer saber, que não quer sentir. Sou ...
A Lúcia não era a rapariga mais bonita da escola a rapariga mais bonita da escola, naqueles tempos, era outra. Suponho que era isso que fazia realmente a diferença, aos onze anos ou coisa parecida não ...
A língua portuguesa, rica, rica de lamber selos, colheres e vulvas (melhor seria escrever genitálias, não centrando o raciocínio no meu género), é também rica nos inúmeros provérbios que tem, um ...
Falamos muito de catarse como escape. Não é errado. Catarse pode ser purificação, pode ser descarga emocional. Catarse pode ser resolução de conflito por uma via que o nosso Ego e Superego aceitem. ...