Ainda aqui estou
Sobre aquela mesa tinha então o mínimo indispensável. É como quando se muda de casa e tudo quanto fica na antiga é um resto dos restos, quando já só sobramos nós prontos para sair. As paredes estavam despidas das minhas telas, os meus pertences destes anos estavam todos enfiados em sacos, de um armário cheio de sobras, essas coisas que fui coleccionando dos dias que passaram desde que aqui cheguei. As fotografias guardadas, as coisas muito importantes foram cautelosamente arrumadas, e eu esperava apenas o momento de, mais uma vez em tão pouco tempo, pegar nos meus trastes e mover-me. Aquele sentido de humor que não me larga, e que às vezes me fode, lá me foi dizendo que pelo menos ia subir na vida, sempre ia subir um piso, ia depositar-me mais perto do céu, mas na diagonal errada. Provavelmente até no edifício errado, em tudo errado. É muito provável que já nem devesse estar aqui. Mas ainda estou.
O sentido de humor que tantas vezes nos fode também ajuda a encarar a vida de outra forma, nem que seja fogo de vista 🙂
Há muito fogo de vista, sim, Imprópria para Consumo. Tenho observado, ao longo da vida e em muitas pessoas que conheci, das melhor humoradas possível, que as suas vidas têm em algum recôndito, episódios que as marcaram muito pela negativa, sofrimentos diversos, passados ou presentes, e o humor, tantas vezes apurado, é defesa, catarse, um refúgio.
A vida tem sempre contornos surpreendentes. E mostra-nos que dos fracos não reza, nunca, a história. Reza dos fortes que têm sentido de humor.
(ainda bem que ainda “aqui” estás 😉 )
Obrigado CAT. Ainda bem que aqui vens. 🙂
O sentido de humor, diz muita gente e diz uma amiga minha a quem ouvi isto muitas vezes, é sinal de inteligência. Nem todo o humor é fino, mas uma pessoa com sentido de humor, com um bom sentido de humor, quero crer que será inteligente, e que será forte para combater a vilania.